Bebi certa vez com Kafka num banco de madeira em uma praça deserta. Era noite e chovia. Chuva com vento que balançava as árvores mais altas e escuras. A bebida era de um forte teor alcoólico e um leve sabor amargo... Saborosa. Não lembro bem o que era... Mas tinha cor de absinto. Bebíamos diretamente … Continue lendo Pálida luz
Tag: poema
Deitado na chuva
Corria inúmeras distâncias para quando chegasse, observar que o local ainda era o mesmo... Ambrose Bierce O local era a mesma casa de minha tia na primeira rua depois da calma avenida do bairro Planalto da Barra. Local bom, muito bom. O que estraga é a grande ladroagem. Toda minha infância viu essas ruas anos … Continue lendo Deitado na chuva
Ovelhas
As muitas ovelhas branquinhas e de rico pelo aveludado que pastavam tranquilamente na paz das sombras de frescas árvores verdes, viram quando seu pastor transformou-se em uma delas. Ele, um pastor experiente e que já há muito cuidava de todas elas, se pôs de repente a dançar e rodopiar em baixo de uma das árvores. … Continue lendo Ovelhas
Campos eólicos
Acordei de repente com uma sombra duradoura sob meus olhos semiabertos que, ao levantar, constatei ser de um enorme urubu que passou frente ao sol, voando ora em círculos acima de minha casa, ora para mais alto. Era como se ele desejasse me acordar para ver algo. A paciência e a cooperação dos urubus sempre … Continue lendo Campos eólicos
Culto da praça
Tenho medo da noite... Medo do que não é noite... Franz Kafka Heloísa e sua filha faziam um pequeno culto numa manhã nublada de sexta, na praça dos eucaliptos. A praça em frente ao banco do Brasil, fila enorme do lado de fora. Na rua que dividia o banco da praça, carros e rostos estranhos … Continue lendo Culto da praça
Erma pinha
Uma pinha marrom e pequena de um pinheiro. Habitando solitariamente a ponta de um galho pendente, um pinheiro erguido e sozinho, afastado do mundo inteiro. Pinha esta que caiu, caiu, rolou e subiu, para descer com mais força em forma de grande bola de neve e adentrar uma gélida e erma caverna. Pequena e frágil … Continue lendo Erma pinha
Fúnebre passagem
Não sofro pelas coisas palpáveis e tocáveis... São as do plano imaterial, aquelas que não se podem ver nem tocar que mais me causam dor... Lourenço Mutarelli Uma deserta rua de ladeira por alguma noite da semana. Jhon descia essa mesma rua sem saber bem o porquê de estar fazendo tal ação. Mas vai descendo … Continue lendo Fúnebre passagem
Suspenso
Dentro do ônibus em que eu viajava de volta de algum lugar, lugar qualquer que um dia já foi muito bom... Insatisfeito com algo que por si só não era lá grande coisa, mas ainda assim me era muito... Pois é o significado inerente em cada coisa que marca, em cada toque que recebe, em … Continue lendo Suspenso
Capítulos inteiros
Ainda choro capítulos inteiros de um mesmo livro que sempre deixei por inacabado... Terminar? Embora relutasse... Tentei tentei, mas todavia me era inalcançável e assim ficou... Era como um atolamento sem fim! Pensamentos perplexos que nunca desejaram deixar-me. "Porquê afoguei-me, por quê afogar-me se a suavidade da superfície é tão branda e macia?" Fazia-se noite … Continue lendo Capítulos inteiros
Multiplicidade
Na constância da multiplicidade do real, diferente deles, corro em busca da captura da realidade em sua mudança, em seu devir. O rio que adentrei para chegar em outra margem era calmo e sussurrante, mas não mais o mesmo de ontem, nem eu, o de ainda há pouco... Oh tempo, como tua ingratidão é penetrante! … Continue lendo Multiplicidade