
Dentro do ônibus em que eu viajava de volta de algum lugar, lugar qualquer que um dia já foi muito bom… Insatisfeito com algo que por si só não era lá grande coisa, mas ainda assim me era muito… Pois é o significado inerente em cada coisa que marca, em cada toque que recebe, em cada segundo que ganha um olhar, por cada instante que passamos juntos… O valor conferido dos momentos sob àquilo que para mim é, serve ou representa… “O valor que damos a cada coisa”, sem isso elas são o quê? Pela janela através do vidro, um avião azul claro ao céu pairava. Veio-me um embargo no peito ao imaginar tamanha carga poética que ali estava contida sem que ninguém a visse. Um cargueiro pesado carregado também, bem assim como eu, de tantos pesos que se somam ao dobro, ao triplo, e geram uma única carga que parece ser o real motivo de fazer parar, olhar para baixo, suspirar profundo e pensar mais um pouco. Avião cargueiro, enorme e pesado sob os céus igualmente azuis, ao sol do meio dia, nuvens esparsas e incertas. E se trocássemos de lugar, não seria melhor? Observá-lo até que me suma de vista, como se eu me perdesse dentro de um sonho que leva-me para dentro de outro sonho. Como em um vago pensamento recorrente de um nascer do sol inocente em campos distantes, me vir a sensação de eu viver sempre uma calma realidade criada na mente de outro ser… É longe, é distante, é vago e nostálgico… Sonhos que eu muito visitava e em um certo momento tornaram-se para mim inacessíveis, desertos e silenciosos sem ninguém mais por ali… Observá-lo tal avião e notar que, muito parece que o mesmo se mantém suspenso por alguma corda invisível que cruza na horizontal e possuí uma força inconcebível até mesmo para qualquer imaginação das mais férteis que possam existir. Uma imensurável corda nas alturas, presa de algum ponto até a um cume indefinível do outro lado. Suspenso, suspenso… Deixando assim o avião perfeitamente pairando, planando somente! Com tanto peso não seria irreal? Mas tão real me parecia, como não seria? Dentro do ônibus eu insatisfeito… Deveria ter feito mais há alguns dias atrás! Não era lá grande coisa mas ainda assim me era muito. Sinto-me suspenso, portador de um peso mas pelo o qual ainda consigo planar. Suspenso como o enorme avião azul. Suspenso como um peso levado para longe, que ao poucos tomou-se de uma impossibilidade de retornar a terra, ao chão firme, feito um balão que só flutua e flutua.
amo a parte em que diz: “imaginar tamanha carga poética que ali estava contida sem que ninguém a visse”, me faz imaginar que lá no céu os aviões levam consigo as poesias e que ver a imagem de um céu azul é como se fosse um miragem relaxante.
amei amei!!!!
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