
Munique, 4 de agosto de 1960.
Pelo quarto dia aqui em Munique, me sinto bem. O velho Lonxeloy está ancorado no litoral báltico a quase mil e trezentos quilômetros daqui, juntamente com o comandante que ficou hospedado por lá mesmo, e mais quatro de nossos companheiros. Somos treze no total, sendo três mulheres. Imagino que vão sair e se divertir a noite por lá, já que existe certa boêmia na cidade. É um prato cheio para eles. Exceto Luana e Elivânia que mais recatada como são, devem saborear algum vinho em casa ou sair por alguma loja de roupas ou livros que ainda estejam abertas pela noite. Passei apenas dois dias lá, e resolvi vir aqui por Munique, aproveitar esse breve tempo livre, é importante. Estão precisamente próximo à praia do mar báltico em Stralsund, uma maravilhosa cidade de veraneio com ótimos balneários. É de encher os olhos. O que é lindo aqui pela Alemanha, e que não é comum ao resto de outras praias em que já visitei pela Europa, é a constituição da areia da praia. A areia é branca e muito fininha, e não cheia de pedregulhos ou pedras como em outras que já fui e que são bem comuns em rios, por exemplo. Algumas praias tem também dunas e muitas gaivotas. É fascinante! Peguei uma inclusive, com ajuda de Jhon, afim de fazer uma pequena verificação em seu bico, penas e o tipo de configuração física de suas asas, depois soltei-a. Consegui também alguns espécimes de crustáceos, ostras, além de conchas e ouriço do mar. A Alemanha possui diversas ilhas que oferecem extensas praias. As mais populares são Amrum, Sylt e Föhr no mar norte. Já Usedom e Fehmarn ficam na região do báltico. Por lá, alem de nós mesmo percebermos, alguns banhistas com quem falamos informaram-nos que por alí (báltico) as águas eram mais tranquilas, e que as ondas mais fortes se encontravam mais pela região norte. Me veio na mente comprar uma prancha e arriscar surfar. Jhon riu quando falei isso: “Um pesquisador e cientista centrado e sempre ocupado surfando, nunca vi!”. Mas o que têm? A diversão e descontração não tem gênero ou idade. Mas entendi o que ele quis dizer sim… No fundo é verdade mesmo… Devo achar outros meios de entretenimento e lazer, sem fins desportivos claro. O que também achei interessante na praia em que fiquei, foram as Strandkörbe. Na tradução é algo como “cestos de praia”. Mas me referia a elas só como korbe mesmo, é mais fácil. Elas na verdade são cadeiras de praia, bastante usadas e comuns por lá. Elas são de uma madeira bem robusta e fechada, afim de proteger do vento frio que possa fazer por alí. Mas são sim muito confortáveis além de oferecerem um suporte lateral para pôr bebidas e outro para pôr os pés. Até degustei algumas cervejas pretas por lá com camarão ao alho e óleo, juntamente com meus companheiros. Lembro de ter uma boa música de banjo, ainda que distante… Ah! O uso delas não é gratuito (korbes). Alugamos algumas e recebemos da moça que tomava conta, uma pequena chave que abriam as cadeiras que se mantêm fechadas. Comum de se ver também muitas barracas, para quem não aluga as korbes. Principalmente quem vai com crianças. Fui informado também com uma senhora que conversei por alguns minutos, que no inverno alí, a água do mar mesmo, chegam a uns quinze graus. Ela me disse que mesmo com o sol, não causam um efeito de aquecimento confortável a quem busca calor. Interessante… Não fui lá pelo inverno, que se faz lá pelo primeiro semestre. Apesar de ser sempre frio, nunca senti frio lá pelo litoral. Enfim. Quero retornar lá mais vezes, é maravilhoso tanto pra relaxar como para fins de pesquisa. Geograficamente, contribui muito!
De lá até aqui Munique, peguei um vôo rápido de pouco mais de sete horas, pela companhia aérea Pan Am. Ah! Os aviões são um verdadeiro sinal de sofisticação… Consegui pegar um vôo na primeira classe (pegaria uma outra classe, mas de última hora foi essa mesma) e adorei entrar e ver que é tudo muito bem cuidado com carinho e atenção… Pelas belas aeromoças tudo muito bem preparado como, headsets, cobertores quentes e travesseiros. Logo após o embarque um show de degustação com champanhe, petiscos deliciosos (ainda pareço sentir o gosto do cheddar com bacon nos bolinhos) e camarão. Enfim, um menu excepcional! Não sei o porquê mas ri baixo feito um bobo depois, quando fiquei imaginando que ao alcance de certa altura chegaria o almoço… Só um riso de contentamento mesmo. Teria algo a ver com a possibilidade de enjôos dos passageiros? Daí então vinha as simpáticas aeromoças e traziam uma refeição mais reforçada e quente. Entre pães e assados frescos provei também um pouco de caviar. Esse último provei apenas por curiosidade, já que nunca tinha comido até então. Gostei do sabor… Mas sei lá, acho que não trocaria por um velho atum defumado, do tipo que Luana já fez para a gente a bordo do Lonxeloy. Nesses vôos também, é servido álcool a vontade… Mas não tomei nada, já que tinha a intenção de ao chegar experimentar umas cervejas alemãs como, Paulaner e até uma Bitburger. Minhas preferidas… Faz tanto tempo que não as provo. Mas ainda sobre a ergonomia dos assentos, são excelentes. Tirando somente que são um pouco estreitas, todas as poltronas são reclináveis, de modo que não atrapalham ou incomodam quem está atrás. No andar de cima do avião, me foi possível observar e até jogar um pouco xadrez (ganhei uma e perdi duas partidas) com um senhor que fumava um charuto e usava um anel de fibra côco. Maravilhoso espaço de jogos e bebidas há alí também! E as aeromoças? Verdadeiras modelos que, tanto pela forma física quanto pelas peças finas que usam impressionam. Sempre há uma vestida de bege e outra de azul claro, com saia e blazer de botões médios e também usam chapéu côco da mesma cor onde na frente fica o símbolo da empresa em um broche metálico. Simpatia, beleza e um perfume delicioso foi o que me gravou na mente a imagem de todas elas! Ao meu lado viajava também uma senhora de traços asiáticos. Pena a gente não ter conversado tanto… Ela parecia não querer. Estava sempre de cara fechada e lendo um livro que não consegui ver qual era. Evitei então puxar assuntos com ela…
Já quase chegando ao aeroporto de destino (chamado de Munich- Franz Josef Strauss e já foi considerado um dos melhores do mundo), se aproximava a noite e pude ver as luzes azuis e indiretas, sendo acesas nas partes superiores das cabines. Ficou tão marcado aquele momento em minha memória, que parece até suprimir algumas outras, para que somente ele sobrevivesse com mais força em minhas lembranças… Pois bem. Agora cá estou em um quarto de hotel onde termino mais uma nota de meu diário… Mais uma de tantas outras mais, que ainda virão… Já fui em um bar aqui próximo e dei umas belas degustadas em umas artesenais cervejas alemãs. Vou largar essa caneta agora (e que linda caneta tinteiro em metal fosco! Ganhei de presente de uma já falecida amiga…) e deitar-me. Me sinto bastante zonzo, e sonolento… Não é uma sensação ruim, muito pelo contrário. Estando assim, por vezes me sinto como nas ondas do verde mar, no conforto do velho Lonxeloy. Talvez seja a saudade das aventuras que me trás essa sensação. Saudades de viver nas belezas dessa terra! Enfim. Em breve devo estar em Comores. A noite aqui em Munique é de uma magia ímpar e fria! Mas um frio que aconchega no calor de um bom casaco ou de repente, outros braços.
Diário de viagem muito interessante! Você tem sido mais do que claro em sua narrativa, dando várias dicas e conselhos ao mesmo tempo, para quem quer passar por esses lugares. Uma saudação cordial.
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Fico imensamente grato que tenha gostado, abraços!!
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Outro abraço de volta, amigo.
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