Esboço perdido

Era uma tarde exposta ao vento e o mar roncava em estrondo espumoso bem alí. Os coqueiros com o resto da vegetação, dançavam pra lá e para cá a dança do vento… E a areia da praia voava forte com suas salinas misturas e pedriscos tão alvos. Tornava a tarde mais alaranjada e turva de se ver. No revoar da areia, lembrava uma horda de mosquitos velozes e quentes voando em direção ao vermelho e longínquo oeste. Relativamente, era a direção contrária para aquela solitária silhueta que estava abaixado sob suas pernas logo alí adiante sobre a areia que era cavada com a força da água que ia e voltava. Passos afundaram continuamente a areia há poucos instantes. E seguiam… até terminarem em dois joelhos dobrados que suportavam o restante do corpo.

Ao lado de umas poucas e grandes rochas que amenizavam por alí tamanha força marítima , próximo de onde quebravam as incessantes ondas azuis, alí ele restava. Estava com um papel de aspecto velho na mão onde continha o esboço de uma cidade, que, não fosse por seu alto relevo e um velho traço detalhado quase apagado, seria apenas um papel em branco que possuía uma resistência extrema e desconhecida com a água. Os detalhes eram todos de um refinado traço feitos como uma mancha forte de impregnado pó de café. Esfumaçado e indelével. O esboço mostrava uma imensa cidade, entre prédios colossais e áreas tão extensas e desabitadas feito um grande deserto verde. “Não entendo, que estranho… Mas isso é uma cidade! Como assim? Quem perderia algo assim tão importante? Bom, pelo menos deveria ser muito importante… E foi o vento ou o oceano que me trouxe? Será que alguém mais viu? Ou veio só para mim? Se alguém viu ou não, certamente és muito antigo e agora, está longe de mais, seja quilômetros, anos ou memórias, são já em milhares a distância de quem a perdeu.” A folha então é virada ao verso e lá está a grande frase póetica de Drummond, na qual o solitário da praia tanto amava e até tinha tatuada em seu corpo “No mar estava escrito uma cidade.” “-

Ah! Então era isso… A cidade que ele falou, que ele falava ou sonhou está aqui em minhas mãos. Será que o esboço foi perdido pelos engenheiros celestiais? Ou Drummond quis me presentear? Talvez soubesse da minha ânsia em ver tão qual seria tal cidade, todo o meu sonho que já cheguei a falar… Sempre imaginei e era exatamente assim. Extensa além da linha azul que sou capaz de ver onde casas e seres seriam um só, onde o afeto e amor pairava no lugar de nuvens… Um sonho que nunca houve, ou se houve, é demasiado belo para existir.”
Nesse instante uma onda que veio mais forte do que as outras quebrou sobre ele envolvendo- o até a cintura fazendo-o assim, soltar aquele velho papel esbranquiçado.

Levantou e olhou imediatamente para todos os lados na água, querendo desesperadamente recuperá- lo para quem sabe guardá-lo consigo afim de mostrar para alguém, pôr em alguma moldura, escrever algo sobre ou mostrar em algum jornal por aí… Mas jamais viu novamente tal papel, jamais o pegou outra vez. Seus olhos vermelhos encheram de lágrimas e chegavam a arder em junção da forte maresia presente alí. Então ele falou baixo “Entendi… Entendi já. Seria um cego de verdade se não decifrasse… Que assim como o poeta some tu também te vais, para sempre, deixando apenas um vazio lotado seja de sonhos ou recordações. Mas sempre forte e presente, não apaga… Então vá minha linda cidade, vá! Seja sal agora, seja azul novamente… então seja mar para sempre!”

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